Começando a pedalar longas distâncias
Começando
Já que estou estreando como colunista do blog, achei que seria interessante falar sobre começos, e um tema bem interessante aos bikers é a questão das primeiras pedaladas, principalmente as mais longas.
Nos grupos de ciclistas espalhados por aí, volta e meia este tema está
em discussão, pois sempre tem gente entrando e saindo dos mesmos:
garotos e garotas curiosos, senhores querendo melhorar sua condição
física, bikers recém-chegados nas cidades, e malucos de todo tipo.
Sinceramente acho que qualquer um pode se aventurar no ciclismo, seja
MTB, speed, cicloturismo ou transporte, mas, por outro lado, penso que
para início de conversa devemos observar algumas considerações básicas.
Pra você que já pedala:
-ajude o próximo: o
estreante chega cheio de dúvidas e receios, muitas vezes não entende
muita coisa sobre o equipamento, sobre os caminhos etc., portanto os
mais “experientes” devem auxiliá-lo, lembre-se que você também começou
um dia, ou seja, nada de tentar se dar bem em cima de quem está
começando.
-não deboche do equipamento alheio:
esta é uma prática que já deveria ter sido abolida. Ninguém usa um
equipamento de baixa qualidade por puro sadomasoquismo e nem todo mundo
pode comprar aquela superbike de luxo (apesar de todos termos o direito
de sonhar com uma). Lembro que quando comecei, e isso não faz muito
tempo (pedalo há apenas dois anos), eu usava uma bike super pesada
(17,5kg), com 21 marchas ruins e pneus velhos, era um verdadeiro tanque
de guerra atolado na lama, mas foi com ela que comecei, com ela que
passei meus primeiros apertos, fiz meus primeiros ajustes e aprendi os
primeiros macetes. Cheguei a ouvir algumas piadinhas, mas no geral eu
recebia incentivos, muitos incentivos, do tipo: “caraca muleque, tu é
corajoso de encarar a trilha com essa bike”, ou “tu ta pedalando bem
hein? Quando comprar uma bike de verdade então…” Enfim, incentive
e oriente seus novos parceiros(as) a adquirir equipamentos que tragam
mais qualidade e conforto às pedaladas, mas nunca os menospreze.
Para quem está começando:
-não compre uma superbike logo de cara:
bicicletas luxuosas, equipadas e ultraleves são sonhos de qualquer um,
mas sonhos caros; se você está começando, peça dicas aos seus parceiros
de pedal ou a um vendedor de confiança. Se puder, compre uma bike
mediana; talvez numa bike mais barata a gente sinta mais confiança para
aprender a fazer ajustes e se preocupe menos com tombos, arranhões no
quadro e possíveis peças quebradas.
-não minta: se você está começando, diga que está começando. Nunca, mas nunca mesmo,
minta sobre isso. O grupo que está lhe recebendo certamente vai adequar
a pedalada às necessidades de quem está começando. Geralmente, os
grupos já têm marcados os dias e horários das pedaladas mais leves ou
mais pesadas. O perigo de mentir sobre isso é passar um baita aperto num
passeio inicial, já vi inclusive gente que nunca mais quis subir numa
bicicleta. Cabe aqui até um “causo”: certa vez, eu e um colega de
trabalho estávamos conversando sobre as últimas pedaladas quando um
conhecido se aproximou e comentou que também pedalava e que gostaria de
nos acompanhar. Prontamente combinamos com ele um rolé para o fim de
semana seguinte, mas não nos esquecemos de perguntar sobre a experiência
e condições físicas dele, e a criatura respondeu que estava a pleno
vapor, pedalando cerca de 70km, três vezes por semana. Ok, ótimo então.
Nunca poderei provar se o cara mentiu ou não, a questão é que na
primeira subida mais forte o bichinho já estava empurrando a bicicleta,
no fim das contas a criatura quase morreu, parecia mais Cristo
carregando a cruz do que um ciclista sobre uma bicicleta, nunca mais
apareceu.
-acredite: eu sei que
quando aquele vizinho lhe contou que pedalou 150km num só dia, você
achou aquilo impossível, impensável, chegou a espalhar para a vizinhança
que o cara era um baita “caôzeiro”, ou então achou que
o cara tinha superpoderes, mas acredite: em condições normais qualquer
um pode pedalar. Vai sofrer um bocado no começo, vai doer tudo (as
costas, a cabeça, o pescoço, as nádegas), vai chegar em casa morto, vai
ouvir os parentes te chamando de maluco, vai pensar em desistir. Mas
seja perseverante, daqui a poucos meses você estará todo orgulhoso no
trabalho tirando uma de super-herói. Há um ano e meio atrás eu postei
todo feliz no facebook uma foto do meu velocímetro marcando 30km de
distância!!! Em pouco tempo 30km virou treino.
-participe de um grupo:
o grupo tem comprovadamente imensa importância psicológica. Com o grupo
você vai aprender mais e mais rápido, faça perguntas, preste atenção.
E, além disso, a galera não vai te deixar em paz. Naquele dia que bater a
preguiça ou que estiver aquele frio desgraçado, fique tranqüilo, vão
começar a chegar mensagens no seu celular: “e aí furão, tá com medinho
do frio?”
-treine: se começou e
gostou, fique tranqüilo, agora vai virar vício. Treine sempre, treinar
será um prazer. Regularidade é a chave para acabar com as dores, com as
dúvidas e até com as crises existenciais; sim, elas existem, quem é que
nunca entrou numa paranóia debaixo de sol quente no meio daquela subida
“monstra”? (“O que é que eu estou fazendo aqui? Eu podia estar no meu
sofá!”). Quem pedala sabe a diferença que faz aqueles dois treininhos de
meio de semana.
Enfim, suba na bike e vá pedalar. Mesmo
que sua bike seja aquele “camelinho” velho e pesado, mesmo que ache que
não vai dar conta, que não saiba ajustar a magrela sozinho. Mesmo que já
tenha tentado algumas vezes e tenha batido aquela paranóia. Mesmo que
já tenha passado aquele aperto. Um dia você vai ver a felicidade que é
chegar em casa acabado de cansaço e imundo, mas com um baita sorriso,
com aquela cara de “eu consegui!!!”.
Vitaly Costa e Silva.
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