PEDALAR E DECIDIR
Em nossos pedais, a distância percorrida, o trajeto, as marchas
adequadas ao terreno e a duração do pedal, são formas de escolha das quais, invariavelmente,
não podemos fugir. Nas trilhas, estradas de terra e asfalto frequentemente
temos que tomar posições ou decidirmos sobre algo. Decidir ou se posicionar
sobre alguma coisa, às vezes, é doloroso, pois ao tomarmos uma decisão sempre
nos restará uma outra opção. Lembro de um pedal entre Rio Preto e Valença, na
altura da Fazenda Bela Vista na estrada do Chaves, o amigo José Adal tomou o
caminho a direita numa bifurcação. Logo em seguida o chamei para seguirmos a
estrada que eu conhecia. Como não conhecia o caminho a direita, optei pelo trecho que já havia passado. Nossas
decisões, na maioria das vezes, são tomadas de acordo com os valores culturais
que nos são transmitidos. No meu caso, a comodidade e a opção por não correr
riscos foi preponderante na minha escolha, pois a sociedade nos influencia não
só na moda, na música e hábitos alimentares mas também em nossas ações. Em
minhas aulas de Filosofia, procuro mostrar aos adolescentes até quanto uma ação,
ou seja, uma decisão tomada por vontade própria foi ou não reflexo daquilo que
você desejava, ou foi meramente reprodução dos modelos de sua referência. Um jovem,
quando arguido sobre o motivo para colocar um piercing tipo argola no nariz, me
respondeu o seguinte: “Fiz porque eu gosto, acho legal!”. Pedi ao adolescente que fechasse os olhos e se imaginasse
sozinho no mundo, sem familiares, sem amigos, sem ninguém. Tratei de conduzi-lo
brevemente pelo “livre mundo da imaginação” assegurando-lhe que sob esta
perspectiva poderia fazer tudo que gostasse e fosse de seu desejo, inclusive a
colocação de quantos piercings quisesse, por um método de auto-aplicação e sem
sentir qualquer dor. Após alguns instantes, envolvido pelos pensamentos
sugeridos, ele balançou a cabeça de um lado para o outro, sorriu e disse que
desse modo não via nenhuma graça para colocar qualquer tipo de piercing e que
tudo agora lhe parecia absolutamente sem sentido. Pela influência da cultura e
induzidos pela mídia que massifica e impõe valores e bens de consumo,
enfatizamos a personalidade social ao mesmo tempo em que nos distanciamos da
essência natural individual. Estamos tão imersos neste contexto que sequer nos
damos conta, tornando-nos reféns inconscientes deste processo. A avaliação do
individuo se torna constante e automática em função de seu papel social e dos
valores a ele agregado. Onde ele trabalha, o seu grau acadêmico, o seu grupo de
influência, suas roupas, o que possui, enfim, em tudo é avaliado e julgado.
Toda hora, todo tempo! O homem faz suas escolhas de acordo com o que lhe é dado
para escolher e estas escolhas são baseadas e norteadas por uma escala a qual
ele está submetido e subjugado. Acredita
na exclusividade de sua posição e defende o modelo que o orienta como se fosse
a mãe que briga por sua cria.
Muitas vezes, com o pretenso desejo de ser
diferente, o homem apenas recria e reproduz os modelos de sua referência. Como
cantava Elis Regina: “...minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo
que fizemos, ainda somos os mesmos, como os nossos pais...”. Acredito que Elis
Regina, com o amadurecimento natural que o tempo e a idade trazem consigo,
chegou à seguinte conclusão: “ O ser só é, quando se vê no outro”. Portanto,
minhas decisões, meus posicionamentos e atitudes não são autônomos, são meros reflexos
da sociedade em que vivemos e
interagimos.
VOLTA DO BARREADO
(OTACÍLIO E ÉDER)
Éder e Otacílio (Volta do Barreado)
Éder e Otacílio (Volta do Barreado)
Éder e Otacílio (Volta do Barreado)
Éder e Otacílio (Volta do Barreado)
Éder e Otacílio (Volta do Barreado)
PEDAL SANTA INÁCIA E GAINHO
(SERGINHO, LANIR E MÁRIO)
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